Sou professora, mas se eu fosse poeta... faria de
todas as minhas aulas uma fantasia, um arco-íris de emoção e sentimentos
mútuos. Conduziria o meu ensinar de forma emocionante com um misto de paz e
encanto e em meus versos aboliria meus ais!
Queria como os poetas levá-los a viajar comigo nessa
aventura que é o ensinar. Queria que pudessem sentir o que eu sinto – alegrias,
euforias, arrepios, sonhos e as angustias também. Sou professora e como tal, posso interpretar
vários papeis, sonhar vários sonhos e conquistar inúmeros corações. Se poeta eu
fosse, contar-lhes-ia de forma bela e emocionante, cada etapa dessa experiência
de escrever o futuro. "O sertanejo é antes de tudo, um forte." __
Assim dizia o poeta! E, é exatamente essa fortaleza que nos faz sonhar e crer
em dias melhores. É o fato de sermos fortes que nos leva a crer que podemos
sim, escrever o futuro!
2016 __ ano de Olimpíada! O espírito olímpico contagia
o povo brasileiro e também os estudantes de escolas públicas. É dada a largada
para mais uma competição entre autores anônimos que vislumbram tocar o coração
daqueles que já não enxergam com “bons olhos” o lugar onde vivem. A missão é
árdua! É preciso ter muita sede e a persistência de um forte para vencer cada
etapa.
Ciente da minha missão, resolvi mais uma vez
participar dessa competição: abracei pela quarta vez, mais uma edição da
Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, no entanto, este ano, seria
diferente! Agora carregava comigo a experiência de ter sido semifinalista em
duas categorias no ano de 2014.
O desafio agora era competir em outro gênero: Poema!
__ uma chama de sentimentos tomou conta de mim. A hora era agora! Precisava
vestir a camisa do nosso time e vencer! Vencer não só a competição, mas os
medos, as angustias e a descrença de que poderíamos sim, representar o nosso
estado na Semifinal da Edição de 2016, assim como já o representamos em edições
anteriores, mesmo que em gêneros diferentes.
Ao adentrar na sala de aula percebi que este ano não
seria igual a tantos outros. A distorção idade-série de meus alunos do sexto
ano “B”, levaram-me a perceber que a minha tarefa ali não seria das mais
fáceis. Fora isso, ainda contava com a reforma da estrutura do prédio que
acontecia paralelo às aulas.
"Eu venho lá do sertão!" __ Terra seca e de
povo sedento. Temos muita sede: de água e de saber! Infelizmente, essa sede de
saber não está em todos os nordestinos, e principalmente, não está presente na
vida de todos os meus alunos da turma "B" do 6º ano do Ensino
Fundamental da escola pública municipal Lélia Silva Trindade.
Foi com muita relutância que apresentei a eles a
Olimpíada de Língua Portuguesa escrevendo o futuro. A desatenção, a
incredulidade e a ausência de sonho, não permitiram que aqueles meninos e
meninas tão carentes se engajassem nesse sonho tão real.
"Voar? __ Como assim, professora? A senhora quer
dizer que se passarmos iremos voar? De avião?" __ Indagavam-me sem
acreditar na possibilidade!
São vinte anos da docência. Metade de minha vida foi
dedicada ao ensino. Já pensei muitas vezes em desistir, mas graças a Deus, em
cada turma que recebo, sou presenteada, nem que seja com apenas um aluno, que
me incentiva a continuar!
Em meio a tantos olhares percebi que havia um que se
destacava. Era a injeção que me faltava! Vesti a camisa, arregacei as mangas e
suei para que a minha missão fosse alcançada com êxito.
A princípio pensei em desistir antes mesmo de começar,
pois nem eu acreditava que em meio a tantos alunos com dificuldades encontraria
um que não se deixaria "influenciar" e que também vestiria a camisa
de nosso time para vencer mais essa Olimpíada.
Como estímulo, apresentei à turma alguns objetos
(medalhas, revistas e fotos) da última Olimpíada de Língua Portuguesa
Escrevendo o Futuro em que participei.
Falei-lhes da possibilidade de participarmos e
vencermos mais essa edição. Voei alto! Mas infelizmente, nem todos se
dispuseram a participar e a alçar voo rumo à tal competição.
Lembro-me que em uma das aulas pedi que olhassem com
bastante atenção o lugar onde vivem. Pedi que observassem e anotassem para
trazer na aula seguinte, cada detalhe que caracterizasse a nossa terra, o nosso
chão. Observem TU-DO! (Foi exatamente esse o comando). Contemplem ruas, praças,
pessoas, sotaques, costumes, vozes, enfim não descartem nenhum pormenor, pois
esse pode ser a cereja do “bolo” (no nosso caso do poema) que fará toda a
diferença em nossa escrita.
A “sorte” foi lançada!
No dia marcado para receber tais anotações, não
consegui camuflar o meu desânimo, pois a decepção estampava a face desta professora
que vos fala – Apenas três alunos trouxeram o que pedi. Mas isso não me fez
desistir. Coletei as informações e as transcrevi para a lousa.
Pedi que averiguassem se ainda havia algo que não fora
citado. Aí sim, senti a euforia de todos. Meu rosto iluminou-se!
Muita coisa foi lembrada e citada por “meus meninos” e
nossa lista crescia fervorosamente. De posse dessas informações passei a
instigá-los a escrever um poema coletivo sobre a nossa cidade. Eles riam com as
rimas sugeridas e se deliciavam com cada verso construído. Não conseguia esconder
o meu orgulho.
Certo dia levei a “Coletânea de poemas” e juntos lemos
a poesia “Tem tudo a ver” de Elias José. Na sequência debatemos os conceitos de
poema e poesia. E mais uma vez me surpreendi – a turma toda participou! Era o
início de mais uma edição do escrevendo o futuro. Aproveitei o andar da
carruagem e falei de Mário Quintana, Bráulio Bessa, Patativa do Assaré, Drummond
e tantos outros...foi fantástico!
O tempo passava e eu a cada dia sentia maior
necessidade de desenvolver as oficinas propostas. Porém, nem tudo acontece como
desejamos. As reformas da escola misturada aos desânimos de alguns alunos foram
a cada dia distanciando-nos de nosso objetivo – a semifinal.
O primeiro semestre findou-se e com ele, foi-se também
a euforia de muitos de meus alunos. Eu ainda acreditava que poderíamos chegar
lá, pois tínhamos muita coisa encaminhada. Foi aí que resolvi imprimir alguns
textos de alunos que já haviam se classificado em outras edições da Olimpíada
de Língua Portuguesa e apresentá-los à turma.
Ao ler e analisar os textos perceberam que não era tão
difícil produzir um texto poético, no entanto, algumas características
precisavam ser consideradas: rimas, figuras de linguagem, sentido próprio e
sentido figurado e outras tantas características do gênero. Mas o que me chamou
atenção foi o fato de que o desejo aflorou mais uma vez em cada olhar.
Claro que houve os que não se engajaram, os que não
ousaram sonhar junto aos demais, mas que mesmo assim, torciam para que ao menos
um texto saísse de nossa turma para que pudéssemos representar a escola. A
maioria passou da posição de competidores à de torcedores!
Ainda tentei resgatar alguns de nossos jogadores, mas
infelizmente não obtive êxito.
Mas Roseane (a mais nova da turma), embarcou nesse
avião e insistiu em voar... voou nas asas da imaginação e traçou os primeiros
versos falando de nosso chão, de nossa gente e de nossa força! As mãos e a
pureza de criança traçaram os versos que sensibilizariam a todos. Era a voz do
presente escrevendo o futuro!
Nosso prazo se esgotava e precisei auxiliar os alunos
na lapidação dos seus textos. Foram dias e dias de reescrita e ajustes para que
os textos pudessem estar à altura de competir e quiçá disputar etapas futuras.
Após a escrita final, o texto “Alma Sertaneja” foi
escolhido para representar a escola na etapa municipal. A alegria foi
contagiante quando a Comissão Municipal anunciou a escolha do texto para
representar o município na Etapa Estadual, mas nada se comparou com a
felicidade de Roseane ao saber que o texto de sua autoria havia passado também
para a etapa seguinte.
__ "Eu consegui professora, conseguimos!!
Uhuuu!" Não contive as lágrimas!
Ainda me arrepio ao lembrar dos seus gritos ao receber
a notícia de sua classificação.
Parafraseando Euclides da Cunha, afirmo que o
professor, "é antes de tudo, um forte!" E é exatamente essa força e
persistência que nos trouxe até a semifinal.
Já somos medalha de bronze! Mas continuamos na disputa
por mais um lugar no pódio! Estamos com as malas prontas para voarmos rumo à
Salvador, mas continuamos sonhando em seguir até o Planalto Central em busca do
Ouro Olímpico!
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